quinta-feira, 15 de março de 2012

A eternidade desse amor termina no Pará


Hoje criei coragem e assisti a um capitulo inteiro da nova novela das 6h da Rede Globo “Amor eterno amor”. E, da mais sincera opinião, estou decepcionada. Enojada. Esbravejada. Mas de qualquer forma, eu não esperava ser surpreendida.

O que unicamente vi foi ganância e esforço para superar emissoras concorrentes. A cultura e a beleza do Estado foram esquecidas, jogadas no lixo. Na verdade, a importância disso foi irrelevante. É muito fácil escrever qualquer besteira para ser transmitida em rede nacional sendo que em torno de 80% das pessoas que não moram na região Norte do país, são ignorantes e não sabem nada além das sua vidas e cultura repugnante de soberba e superioridade.

Mas então, querida Globo, eu gostaria de vos dizer, assim como para todo e qualquer outro leigo brasileiro que, não, o Norte não é o Nordeste. Não estou inferiorizando essa região árida – linda e gostosa – do país, longe de mim. Mas as pessoas do Pará, não têm sotaque nordestino, não falam expressões como “oxe”, tampouco choramingando. Temos um dialeto chiado, lento e ondulatório. Soa como um rio, ora em tempestade, ora em calmaria.

Segundo, (eu não comecei com primeiro, mas quero falar segundo) a televisão não chegou ao Marajó antes de chegar às grandes capitais brasileiras, mas eu posso afirmar com toda convicção que não chegou esse ano, nem ano passado. Eu diria uns 15 anos atrás, no mínimo.

Depois, “égua” é uma gíria tipo “bah” e “caraca”, ou seja, adaptável em inúmeros contextos. Portanto, queridos escritores de ideologias patéticas e deprimentes, o “égua” é dito e entonado de n formas. Não se fala “égua” porque ela é mulher do cavalo, se fala “égua” por surpresa, por amor, por destino, por favor, por obrigado, por bom dia, por boa noite. Fala-se “égua” assim como se bebe água nesse calor infernal que é a região Norte.

Apesar de tudo, eu tenho consciência de que as cidades do Marajó, assim como o Pará (e eu ousaria dizer até que o resto do Brasil) não é Tóquio de tanto desenvolvimento e pessoas com educação acadêmica e profissional, claro que não direi isso. Mas, essa calorenta região está muito longe de ser um lugar onde as pessoas matam e comem a carne de humanos, como canibais, seja qual for o motivo. Está longe, também, de ser essa idiotice e infelicidade que essa novela é.

E, vai além minha decepção quando me lembro da “Selvagem de Santarém”. Mas seria muita indignação para um texto só, para um leitor só, para um escritor paraense só. Portanto, ficará guardado na caixinha de recordações passiveis de esquecimento. Forçado, lastimável.


4 comentários:

  1. Acho no mínimo um deboche uma pessoa comentar que televisões chegaram no marajó em 1997, justamente em uma crítica à "ignorância e cultura repugnante de soberba e superioridade" sulista. Penso que tu expressaste mal neste ponto, mas enfim... Nunca assisti um capítulo dessa novela e nem a "Selvagem de Santarém", mas penso que é mais uma maneira de aparecermos e dizermos quem somos para o resto Brasil, e sim, temos raízes indígenas, não importa se tu moras no prédio mais chique do Umarizal ou em uma casa de barro no interior mais pobre do estado, todos nós somos descendentes de índios e não tem por quê ter vergonha disso. Não só nós, mas como os brasileiros em geral possuem essa origem indígena - afinal de contas como eles acham que são vistos pelos estrangeiros? -, daí a necessidade de darmos mais valor a nossa cultura rica, linda e diversificada. Quem não dá esse devido valor é quem deve se envergonhar de ser desprovido de cérebro.

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  2. EVOLUÍSTE, saíste daqueles seus textos emotivos e forçados, de menina virando mulher. Estás mais objetiva, mais sem perder seu sarcasmo e humor subjetivo. - Amei.

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  3. Aqui em Pernambuco as pessoas se sentem do mesmo jeito. Veem como a concentração da atividade cultural (particulamente a televisiva) no Centro-Sul, deixa-nos meio que fora dos "padrões" nacionais, expostos a opiniões arbitrarias de quem nós vê como estrangeiros nacionais.

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  4. muito bom!
    vou aproveitar da dizer o que eu acho... dizer que no sul/ suldeste as pessoas acham que norte e nordeste é a mesma coisa e que aqui nos sentimos superiores, equivale a dizer que em belem só tem índio e jacaré na rua. é generalizar algo que só é válido para uma minoria, por conta de esteriótipos disceminados pela midía. só queria dizer isso, já que a globo e outras emissoras estão me irritando tb!

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