segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Fernando Pessoa

Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
(Álvaro de Campos, 21-10-1935)

Um beijo para vocês, que como eu, acham o Álvaro de  Campos (depois do Alberto Caeiro) o melhor heterônimo do Fernando Pessoa.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Caderninho e Céu Azul

Fiz, anos atrás, uma viagem ao estado Havaí, em que conheci várias pessoas. Dentre elas, um homem de mais ou menos 47 anos, com cabelos castanho claro e liso, alto e forte. Não muito atraente. Tinha um semblante triste e me parecia distraído quase sempre. Nunca falava com ninguém mais do que o necessário, embora eu tenha o ouvido sussurrar coisas incompreensíveis, algumas vezes.

A viagem foi muito agradável, me senti por vezes no seriado Eu, a Patroa e as Crianças, pois onde chegávamos, recebíamos aqueles colares havaianos que todos conhecem. Honolulu era engraçada, não só pelo nome, mas pelos seus habitantes e pelos turistas nada normais que ficaram na mesma casa que eu.

Mas daquele homem, descobri, que se chamava Luis de Almeida, que perdera o amor e o emprego abandonara. Sempre consultava um caderninho com capa azul e jamais o vi escrevendo algo ali, embora andasse com um lápis na mão. Passei então, a prestar muita atenção em Seu Luís. Ele era muito misterioso e nunca demonstrava entusiasmo nos passeios e em nenhum lugar que íamos. E sim, ele ia em todos os lugares, sempre com seu caderninho azul e seu lápis.

A viagem era de um mês, e já fazia quase quinze dias quando o caderninho do Seu Luis sumiu. Percebi, então que aquele homem despertava curiosidade em tantas outras pessoas, além de mim me senti melhor. E essa foi a primeira vez em que ouvi sua voz claramente em palavras que diziam: "Alguém viu meu caderninho azul, que possui escrito na capa 'endereços'?" Seu semblante subitamente mudou e aquilo já estava começando a ficar verdadeiramente divertido.

Começou uma busca incansável em todos os cômodos da casa. Não houve um só canto que não tenha sido vasculhado, a ponto de causar dor nas costas. Não fomos à praia nesse dia, tampouco saímos para nosso passeio no crepúsculo. Revisamos a cena inúmeras vezes desde o último momento em que Seu Luís estivera com seu "pobre caderninho", como costumava tediantemente repetir.

Não achamos. De forma alguma achamos. Desejei por vezes ter um google que achasse coisas perdidas na casa. Esse desejo também não foi atendido.

A noite chegou e deu-se por encerrada as buscas sim, foi quase um drama policial. Seu Luís estava arrasado, e eu que fui a mais dedicada CSI daquele dia, resolvi ficar em casa e fazer companhia a ele, que essa hora já não queria mais está ali. Cozinhei um macarrão instantâneo para mim e para Seu Luís como forma de aproximação. Ele aceitou e eu percebi de imediato sua gratidão. Foi esse o momento exato para eu perguntar tudo o que eu queria tanto saber. Disse-me então:

― Há 20 anos, fiz uma viagem ao Havaí. Uma viagem com meus amigos, em que teria muita bebida, festa e mulher bonita. As coisas, na verdade, não eram tão liberais como nos dia de hoje, minha cara, mas nós também sabiamos nos divertir. ― papo de velho, pensei. ― Depois do Havaí, iríamos para Las Vegas, que desde essa época já tinha a perversão de seus cassinos e suas noitadas a flor da pele. Mas conheci Kailina Cafene, uma jovem mulher de apenas 20 anos, linda, de olhos verdes e pele morena cor do Havaí.
― Meus amigos prosseguiram na viagem, e eu fiquei em Honolulu por mais dois meses de um romance inesgotavelmente doce e ensolarado. Mas precisei voltar para casa, minha vida profissional ainda estava começando e eu não podia ficar. Fizemos promessas de amor, planejamos todo o nosso futuro e até uma viagem que Kailina faria ao Brasil meses depois da minha partida.  ― uma longa pausa foi feita, e prosseguiu:
Mas tudo o que restou foi saudade e meu caderninho azul. Nele, eu tinha escrito exatamente na letra K o endereço de Kailine. Ele era a única esperança que eu ainda tinha nela e na vida. Eu ainda sei o endereço, pois o decorei, mas essa história já está longe de ter um final feliz, porque sei que Kailine, hoje, talvez esteja bem longe daqui.

Não entendi o "daqui", mas percebi que a conversa havia acabado. Tratei de procurar algo para beber, pois precisava engolir o fato de as coisas serem assim mesmo, e a vida ser cruel com a gente. Ou com quem deixa que isso aconteça. Fiquei sabendo que Seu Luís publicou no jornal de Honolulu uma nota que dava falta do seu caderninho, uma nota muito dramática, diga-se de passagem. E caso alguém esteja interessado, eu posso lhes enviar a nota. Em todo caso, eu já não queria mais fazer parte daquela história.  E ainda acredito que ele jamais tenha encontrado o que gastou sua vida inteira procurando. Um caderninho azul.

Meu aloha pra vocês, queridos leitores. R

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Aero Porto

Nesses últimos dias estive pensando no quão solitário ou magnificamente cheio de amizades um aeroporto pode ser. Sempre calado, contando os mais diferentes tipos de histórias. De uma maneira linda para aqueles que sabem que vão voltar, ou, dramática para aqueles que voltam, porém que vão deixar saudades. Ou ainda de maneira sacrificantemente triste, para aqueles que vão sem olhar para trás. Pessoas viajam a trabalho, a estudo, a passeio, a procura de seu destino, em meio a uma fuga. Viajam com muitos objetivos.

Na época da Gripe Suína - que embora tenha um nome biologicamente elegante, acho mais pertinente chamá-la assim - o aeroporto viu-se em meio a um grande desespero, certamente ficou receoso de levar a culpa por tantas transmissões, mortes e problemas que essa pandemia causou, mesmo tendo tomado o devido cuidado de se proteger. Cuidado esse, indispensável na hora de se revistar o passageiro, isso para não lembrarmos o caso das torres gêmeas, porque estamos falando de aeroporto, não de avião e muito menos dos EUA.

E na época do Círio, o aeroporto fica feliz e provavelmente se acha o lugar mais importante da cidade, mais até que a própria Basílica de Nazaré. São as pessoas chegando de todas as partes do Brasil e do mundo para saborear a festividade. Isso deve acontecer também no RJ, na época do carnaval, vai saber.

Alguns meses¹ atrás, minha mãe viajou e fui deixá-la no aeroporto. E perto na hora do embarque, um casal se despedia. Eles não conseguiam se desgrudar. Via-se, sentia-se e ouvia-se o amor de longe, talvez um "longe" que não se possa imaginar. Promessas certamente foram feitas, e lágrimas inundaram o meu coração de dó, que apenas observava tudo com muita atenção, embora não tivesse sido convidada a participar da cena. Despedi-me de minha mãe, sem choro, sem nada. Eu sabia que em uma semana ela estaria de volta, com o meu pai, que viajou dias depois.

E desde esse dia comecei a pensar nas tantas histórias que o aeroporto coleciona. Lembro-me da minha primeira viagem sozinha. Tinha 16, um travesseiro, muitas saudades da Gisah e uma imensa gratidão por poder, enfim, estar viajando. Lembro-me quando uma amiga modelo voltou de SP, depois de ter ganhado um concurso na TV e ganhado todo o carinho das suas amigas e seus familiares numa imensa festa de boas vindas, lá mesmo, no tão visitado aeroporto.


E em outra lembrança, percebo que o aeroporto não guarda só momentos alegres de filmes românticos. Em uma viagem, fiz escala em um aeroporto baiano, e estava em meio a uma cena torturante. Eu tinha 9 anos e a expressão assustada no rosto. Era uma mulher gritando loucamente, sendo arrastada pelo chão por seguranças musculosos. Não, ela não era nenhuma terrorista, era apenas uma mulher identificada com sua carteira de motorista.


E assim o aeroporto vive sua vida, contando e criando histórias. Guardando sorrisos nos melhores casos, lágrimas também, mas essas talvez tenham outros sentindos. Sentindos esses, que apenas quem passa por os conhece. Então, não me venham com histórias de pescador.



¹Esse post foi iniciado no dia 05/02, mas só hoje lembrei de terminar. Logo, essa viagem da minha mãe, já quase completa um ano.


Beijos leitores. R

sábado, 2 de julho de 2011

Artigos de Luxo

Nunca consegui entender muito bem a diferença entre cartão de crédito e cartão de débito. Pra mim, tudo dava no mesmo, pois o cartão era o mesmo e passava de maneira equivalente naquela maquininha super inútil.

De qualquer maneira, sempre achei que quando a moça do caixa perguntava: "débito ou crédito" e o cliente respondia: "débito" isso significava que a pessoa era verdadeiramente Chic. Talvez, pelo fato de que o papai nunca respondeu "débito" na vida. E sendo assim, tudo o que a minha família jamais fizera era sinonimo de luxo.

A minha família, também, nunca teve um aspirador de pó. E quando eu estava respondendo as perguntas do enem 2011 e vi assim: "quantos aparelhos de aspirador de pó têm na sua casa?" morri de rir. Não que eu vá fazer essa prova, mesmo porque não paguei a inscrição, mas para efeito de lembrança, achei pertinente dividir esse fato.

Outras coisas, deixaram de ser artigos de luxo - no meu conceito - a partir do momento em que entraram na minha casa. Exemplo disso foi o ar condicionado. O carro. O computador.

A propósito, descobri que o cartão de crédito serve para endividar você. O cartão de débito você só usa quando possui o contrário de débito, digo, quando você possui dinheiro na conta. E assim, se dá o mundo da contabilidade e da alta sociedade.

Um beijo especial para você que usa cartão de débito e é rico.

domingo, 12 de junho de 2011

Feliz dia dos Namorados



Texto de Caio Fernando Abreu.


Que o dia dos namorados seja eternamente especial.
Beijos para todos os namorandinhos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Cinco Itens Importantes.


  1. O Contos de Raisa anda escasso de ideias.

  2. O Contos de Raisa tem uma novidade: sua única e mais ilustre escritora fora aprovada no IFPA (no dia 13/02), entretanto não viera comunicar porque estava verdadeiramente com preguiça.

  3. 3- O Contos de Raisa está com um layout horrível, ninguém suporta vê-lo assim, nem eu.

  4. O Contos de Raisa sugere o twitter: @raisaaaraujo em que breves citações, confusões e rotinas são descritas pela escritora desse blog. Caso alguém esteja interessado, é claro.

  5. O Contos de Raisa não morreu, apenas vai tirar férias. Na verdade, apenas vem aqui comunica-los que está de férias.

Beijos meus queridos.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Legado

Qual frase da sua lápide
Que resumiria sua vida
Que refletisse saudade
Em quem chorou sua partida?
Como quer ser lembrado?
O que deixaste aqui?
Te orgulhas do teu passado?
Ou não deixas nada ao ir?
Quantos amigos deixaste?
Que não esquecem de ti?
Quantos amores tiveste?
Quantos deixaste partir?

[...]

Então viva cada momento
Pra que no fim, na partida
Não deixe só um pensamento
Deixe um legado de vida.



Poesia de Paulo Sá, escritor paraense, formado em química. Sim, em química. Livro: Ensaios de um químico. Para mais informações, clique aqui.

Ps: Achei esse livro hoje, nas coisas do meu pai, o li e gostei. E sabendo-se que não passei na federal porque errei todas as questões de química, sem dúvidas, esse site vai direto para os meus favoritos. Espero que ajude a você, que como eu, é também uma lástima em química.

R

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Mangueira

No intervalo de uma aula, no curso pré-vestibular, no ano passado, saímos para tomar sorvete, numa sorveteria deliciosamente próxima dali. Estávamos perto da saída da garagem, o que nos pouparia um andar cansativo, então suplicamos para o servente nos deixar passar por ali, sem precisar registrar nossa saída. Enfim, ele concordou, com a condição de passarmos o dedo duas vezes na catraca. Certo.

E ao sair, rindo e distraídos de qualquer impasse da vida, levei um banho, de uma mangueira que surgiu assim, do nada, tanto quanto mangas caem em nossas cabeças. Mas essa mangueira era a típica que transporta água, e eu sou a típica pessoa que atrai esse tipo de coisa. Não houve uma só pessoa na rua que não tenha rido de tamanha distração daquele bêbado. É, o cara já tem cara de bêbado, dormindo, acordado, sóbrio, sorrindo, chorando. Sempre bêbado.

E, tive a impressão que ele mal conseguia se segurar em pé. Só impressão mesmo, porque ele veio me pedir desculpas. Eu não tive reação, fiquei estagnada no meio da calçada tentando entender aquele absurdo, com a maior cara de.... bem, não sei que cara eu fiz.

Passei o resto do dia com frio, tremendo ate os meus cílios, mas tudo bem, isso rendeu horas de risos e muita história para contar. Além de fazer eu esquecer a cruel realidade em que vivia. E que tornarei a viver esse ano. Bem, isso serve aos desavisados, que a qualquer hora, em qualquer lugar um banho (seja de água, seja de coisas) pode te surpreender.

Aos meus leitores encharcados, um beijo.
R

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

3.9.5


Eu amo essa foto, amo Belém, amo maniçoba.
Feliz aniversário Belém, te amo!

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Feliz A N

Oi, estou aqui, começando o 4º ano de blog, não muito atualizado, eu sei. Mas esse ano será diferente. Vou escrever belas coisas e leva-los à lugares inimaginaveis, afinal, eu nasci para isso.
Então um feliz ano novo, e que hoje (que já é dia 7) o sonho de entrar na universidade, seja enfim, alcançado por mim e por todos que merecem.

Beijos, eu amo infinitamente todos vocês.
R