sábado, 8 de agosto de 2009

A timidez e as oportunidades.

A primeira vez a gente nunca esquece, só não quando se trata de escola, fora isso a gente nunca esquece. Mas dessa vez foi diferente. Ontem recomeçaram as aulas no inglês, e claro que a minha animação era nula. E como se a minha presença na sala já não bastasse, o ar condicionado não tava prestando, e o meu professor, não é de fato o mais agradável do mundo.
Então mudamos de sala, e em vez de ficarmos um de frente pro outro como o de costume, tipo alcoólicos anônimos, ficamos como se estivéssemos numa sala de aula normal. E papo vai e papo vem, o professor simpaticão (argh) pediu que nos apresentássemos, pois ele gostava de saber de tudo sobre seus alunos, (como assim?, eu me perguntei). E eu que tenho a maior vergonha de falar em público quando não conheço ninguém, comecei a suar, (psicologicamente, claro). Sorte que meu nome é um dos últimos da lista e deu tempo de eu me concentrar em não falar bobagem.
Mas em um determinado momento toda essa minha concentração foi às favas, porque foi a vez da minha vizinha de 50 anos falar. E me emocionei, juro. Toda a vergonha que eu sinto foi embora naquele momento. Como deve ter ficado claro, ela é a mais velha da sala, mas até que o professor. E o professor diz:
— Maria de Nazaré, é você? — ele aponta pra ela e ela confirma — pode começar a falar de você.
— Bem, eu tenho 50 anos, sou comerciante, sou casada, tenho três filhos, duas meninas gêmeas de 20 anos e um menino prestes a fazer 12 anos. As minhas duas filhas já são diplomadas no inglês e o meu filho está começando agora, e em vez de perder tempo o esperando sair das aulas resolvi me matricular também. Tenho um sonho de transformar a área de turismo aqui de Belém porque eu sinto que esse setor é muito fraco, por isso preciso do inglês. A verdade é que eu amo línguas e estudá-las é muito legal. — disse ela.
Nunca ouvi um depoimento de apresentação tão profundo. Claro que ela não falou com essas palavras, e nem usou os pontos e as vírgulas que eu usei pra se expressar. Mas eu adorei o que ela disse, e me senti encorajada pra seguir em frente, mesmo sendo a única menina de 16 anos lá. E claro que depois disso não me lembrava nem do meu nome. Não sabia mais o que falar e devo ter falado um monte de besteira. Fazer o que, né?!

Raisa Araújo

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