sábado, 16 de agosto de 2008

O amor que choveu.

Do dignissimo cronista Antonio Prata publicado na revista Capricho

Era uma vez um menino que amava demais. Amava tanto, mas tanto, que o amor nem cabia dentro dele. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremendo, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado).O menino sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor à menina que amava. Mas como saber o que ela achava dele? Na classe, tinha mais quinze meninos. Na escola, trezentos. No mundo, vai saber, uns dois bilhões? Como é que ia acontecer de a menina se apaixonar justo por ele, que tinha se apaixonado por ela?O menino tentou trancar o amor numa mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente, o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia do prédio, do quarteirão e logo o menino saiu andando pela cidade escura -- só ele brilhando nas ruas, deixando pegadas de Star Fix por onde pisava.O que é que eu faço? -- perguntou ao prefeito, ao amigo, ao doutor e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. Fala pra ela! -- diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ele não tinha coragem. E se ela não o amasse? E se não aceitasse todo o amor que ele tinha pra dar? Ele ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2978.Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele -- se tem oito braços para os abraços, por que não quatro corações, para as suas paixões? Ele é que não dava conta, era só um menino, com apenas duas mãos e o maior sentimento do mundo.Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que o menino não sabia era que seu amor era maior do que o mar. E o amor do menino fez o oceano evaporar. Ele chorou, chorou e chorou, pela morte do mar e de seu grande amor.Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor do menino, que chovia do Saara à Belém, de Meca à Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando a menina que o menino amava. E assim que a água tocou sua língua, ela saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de um amor tão grande, mas tão grande, que já nem cabia dentro dela.

2 comentários:

  1. Aaah, cara *__*
    Em pensar que já estive perto de ti ;~
    Acho que faz 2 anos, parece que foi hoje pela manhã, eu, no rego barros, te olhando, olhando, olhando, mas não tive coragem de te conhecer. Motivo: sabe aquele pensamento besta de 'aaah, ela é da 7ª série (ou outra, não lembro ao certo)...'? Pois é, eu acredito que, com o tempo, a pessoa cresce e evolui e pode guardar uma amostra do que sente. Me arrependo completamente de não ter feito nada enquanto estava perto, mas não se pode voltar no tempo e não posso fazer nada. Você pode, mas deixa pra lá =/
    Sabe quando a gente fala, fala, fala, mas não sabe o motivo de falar? Me sinto assim.
    Desculpe qualquer coisa.
    Mesmo que não leia (até mesmo por eu estar postando em um post de Agosto), muito obrigado mesmo e até um próximo post.

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  2. Meu deus, quem és tu? Como sabes aonde eu estudo? Estais falando sério? Tu existe mesmo? Não me lembro de ter te conhecido. Me desculpa. Mas se algum dia, por um surto de sorte, tu voltares aqui nesses comentários, me responde. Me deixa teu orkut, msn, twitter, email, telefone, fax, endereço, qualquer coisa que possa fazer eu descobri quem es.

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